sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Mulher em Roraima mora há 10 anos em cima de uma árvore

Rosilene Costa, 63, afirma não ter medo de morar no seu abrigo, que tem até rede e uma coleção de livros, construído com pedaços de madeira amarrados uns aos outros e coberto com uma lona
Moradia sempre foi um dos principais problemas do País. Enquanto condomínios de luxo são erguidos diariamente nas grandes capitais, 47,5% da população brasileira, segundos dados do IBGE, “dão um jeitinho”, construindo residências humildes, muitas vezes feitas de maneira rudimentar e com pouca – ou quase nenhuma – condição de habitabilidade.
Rosilene Moraes Costa, 63 anos, “deu seu jeitinho” de uma maneira inusitada. Há dez anos, ela mora numa ‘casa’ construída no alto de uma árvore. 
Com uma rede e até livros, o abrigo, construído com pedaços de madeira amarrados uns aos outros e coberto com uma lona, fica às margens do igarapé Caxangá, no bairro Caetano Filho, Centro de Boa Vista, em Roraima. 
“Gosto de ficar sozinha e da liberdade”, explica Rosilene, que não tem filhos e nunca foi casada, ao ser questionada sobre o motivo pelo qual foi morar sobre uma árvore.
A decisão de viver em Boa Vista surgiu da vontade de estudar. “Aqui consegui terminar o ensino médio. Não sou analfabeta”, ressaltou, orgulhosa ao demonstrar que a escolha de morar na árvore não está relacionada à falta de conhecimento.
Ela disse que conhece os direitos que tem como idosa, incluindo ter uma moradia e condições básicas de saúde. No entanto, nos dez anos em que vive na árvore nunca teve acesso a eles.
“Já fui atrás, não adianta. O estatuto diz que o estado deve proteger os idosos. Mas, até agora, não tive nenhuma proteção. Nem aposentada sou. Me acomodei com essa situação. Mas, morar aqui não significa que não tenho nada. Tenho uma vida”, confessou.
Para se alimentar, ela diz que recebe ajuda dos moradores do bairro. Algumas vezes, pede ajuda na rua. Rosilene faz a higiene pessoal em um banheiro de uma loja que fica no centro comercial de Boa Vista.
Ela diz que não tem medo de morar sozinha e que não sente falta de serviços como água encanada ou energia elétrica. “A dignidade é algo que não nos compram. Não tenho condições de pagar um lugar para morar e também não vou sair por aí ‘sujando’ meu nome, devendo às pessoas. Tenho respeito”, desaba Rosilene.

Fotos: Valéria Oliveira e Natacha Portal / G1 / divulgação