Todos o conhecem na cidade. Rua Floriano Peixoto, 679. Barbeiro no mesmo ponto há 53 anos, Ary Lopes de Oliveira, Ary Barbeiro, como ele é conhecido por ser um torcedor das antigas do Linense, e por ter sua barbearia como um verdadeiro museu de fotos antigas. O clube Atlético Linense e o Palmeiras são duas de suas eternas paixões. Ary tem hoje 81 anos e frequenta os jogos desde os 8 anos. Nascido em 7 de março de 1930, Ary é uma referência na cidade quando o assunto é o time. Já ficou famoso aparecendo na tv. Deu entrevistas a jornais e rádios da região. Mas não perde a humildade. Recebe a todos com muita atenção e não se cansa de contar a mesma história, mas sempre com um novo detalhe por ele esquecido. Seguindo a profissão do pai barbeiro, Antonio Muniz de Oliveira, Ary e mais três dos sete irmãos, se tornaram barbeiros. Chegaram a trabalhar juntos, mas depois se separaram. Cada um montou sua própria barbearia. Um morreu, o outro deixou a profissão e hoje, só Ary permanece com a tesoura afiada. Ary atende cerca de 10 pessoas por dia por dia, entre cabelo, barba e bigode. Não tem do que reclamar. Lembra que começou a cortar cabelos quando tinha 7 anos de idade, em 1937. Garante que todos os dias o movimento é bom, mas que no sábado a procura é maior. Seus clientes são fiéis, o mais velho freqüenta sua barbearia há mais de 46 anos. Pergunto por que a barbearia ainda tem a estrutura, os objetos de trabalho e a decoração antiga. Tudo muito retrô. Secador. Assentos. Pôsteres. Balcão. Armarinho. Mesinha. Cadeira giratória. Ary diz que não venderia tudo aquilo por preço algum. Já houve algumas ofertas, mas nada que substituísse o valor simbólico que os objetos possuem em sua vida. Tudo ali tem mais de 70 anos. Menos a tesoura, pois Ary abandonou a navalha, por ter se adaptado melhor com a tesoura. Acha navalha coisa de gente fresca. Não gosta. E garante que o resultado com a tesoura fica bem melhor.
Rapidamente sou interrompida por um cliente. Ary o atende e conversa comigo. Depois surge apenas um conhecido que entra, lê os curiosos pôsteres na parede e vai embora lhe desejando um ótimo dia. Qual será o mistério de tanta sabedoria e simpatia?
Há quem passe por ali toda a semana, para cortar o cabelo, fazer a barba ou apenas para falar um bom dia ou boa tarde. Há quem já passou e não voltou mais. Mas há quem freqüente e quem não troque Ary por barbeiro algum. Já passaram por ali ex-prefeitos, deputados e grandes amigos que já partiram. Ary tem saudade. Lembra que todos os anos de sua vida foram ótimos. Há também quem fale de política, de mulher bonita ou apenas uma conversa sem começo e nem fim. Há quem divida segredos, fale de dor e peça ajuda. Há quem fale de perdas e saudade. Há também quem fale mal de alguém. Ali há lugar para todos os assuntos e para todas as pessoas. Ary trata a todos igualmente, sem nenhuma diferença. Considera-se grande amigo dos clientes; muitos deles convivem com Ary há mais de 50 anos.
Quando você pisa na barbearia a foto que chama a atenção, é Ary, em cima de um elefante, em 1965. Ary tem quase a mesma idade do Clube, fundado em 1927, hoje com 84 anos. Ary se orgulha em falar do time que tanto lhe trouxe histórias e boas lembranças. Desde pequeno morava perto do antigo Estádio de Eucaliptos ou Gigante de Madeira, e comparecia a todos os jogos com os irmãos. Esteve presente em 1962 quando foi inaugurado o Estádio Gilberto Siqueira Lopes, nome em homenagem a um ex-prefeito, advogado e seu amigo pessoal. Ary lembra que a estreia foi com o jogo que o Clube Atlético Linense perdeu de 2 x 4 para o Botafogo Futebol Clube. O "Gilbertão", como ficou conhecido, tem capacidade para 15 mil torcedores e o barbeiro conta nos dedos os jogos que deixou de ir ao Estádio.
Ary fala novamente da história do Elefante da Noroeste. O clube ficou conhecido pelo mascote após se tornar símbolo do time. O título de elefante se deve a uma comparação ingênua do Linense com o animal, que vai devagar, mas sempre chega longe. Em 25 de julho de 1965 após um concurso para eleger os corneteiros do clube (o prêmio seria uma volta no Estádio em cima dos elefantes que o Circo Garcia disponibilizou); Ary, após a votação unânime, venceu com 45 mil votos e ganhou a volta olímpica em um dia de jogo clássico (Linense x Tanabi), e mais 10 mil cruzeiros. Garante que foi a maior falação do ano na época. Ary lembra também de grandes jogos mostrando os pôsteres do time colados nas paredes, como o confronto em 1953, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo. O Clube Atlético Linense venceu a Ferroviária por 3x0, tornando-se Campeão Paulista da A2. O jogo em 1977, em histórica partida, consagrou o time como Campeão Paulista A3, derrotando o Votuporanguense por 1 x 0. Ary não se esquece de falar da vitória do Linense que garantiu a primeira divisão em 2011. Além de ter orgulho do time, Ary tem orgulho de ser Linense, mesmo tendo as origens de Avanhandava.
Fora dali Ary é como qualquer outra pessoa. Não esconde e diz que não é segredo pra ninguém a sua “passadinha” diária no bar. Pára e senta para tomar sua cerveja onde encontra amigos. Em qualquer lugar ele se sente em casa; desde que esteja bem acompanhado. Conta-me que não deixa de trabalhar um dia, exceto aos domingos. Há três anos atrás, Ary ficou 110 dias afastado por um problema na coluna. Doía demais. Estava quase sem andar. Ary achou que não iria agüentar de saudade do trabalho nesse tempo. A operação corrigiu o problema e Ary está melhor do que nunca. De camisa quase sempre branca, óculos e vários cabelos brancos, Ary não pensa em sair dali. Só se o destino o der uma prova sem múltipla escolha. O ponto da barbearia nunca pertenceu a ele. O dono nunca quis vender, mas também nunca deixou de alugar para o barbeiro. Nenhuma proposta conseguiu tira-lo dali. E ele permanece até hoje. Talvez se tivesse mudado de local não teria dado certo a sua profissão e o seu reconhecimento.
Autêntico e paciente, Ary também é aposentado, pois como todo brasileiro precisa ter um salário extra. Pai de duas filhas, Regina e Denise; uma estilista e outra analista contábil, Ary fica feliz por uma filha morar perto. Com isso, ele tem mais tempo para se dedicar a sua única neta. É assim que Ary divide o seu tempo. Alice Oliveira, sua mulher, não tem queixas de Ary. Com 76 anos, garante que ele é um bom marido, bom pai e bom avô. E não esquece de falar o fiel torcedor que é. Mas não fica enciumada por dividir seu tempo com o time e a barbearia. Seu pai sempre foi ferroviário e sua mãe nunca teve queixas pelo tempo ausente. Alice também não tem. É preciso nessa idade saber tirar o máximo de proveito do tempo, diz a Ary. O corpo e a cabeça agradecem a eles.
Ele não me deixa esquecer do Palmeiras. Sempre que podia, comparecia aos jogos do Palmeiras no estado de São Paulo. Considera o goleiro Marcos o seu herói. Muitas conquistas do time se devem ao seu brilhante desenvolvimento e talento. Lembra que a vitória de 1959 foi uma das mais emocionantes já vistas por ele. Mostrando um vinil que tem a narração dessa conquista, Ary lamenta por não estar presente naquele dia.
Divide o seu tempo livre na barbearia lendo jornais, vendo TV, cumprimentando a todos que passam na calçada e lendo romances espíritas. Gosta de ler. De tentar compreender além do que acontece nos seus olhos. Ary é assinante do clube do livro e garante que é apaixonado por esses contos espirituais.
Despeço-me e ele permanece pensativo, tentando lembrar de algum detalhe ou algum pedaço de sua história que não foi contado. Promete me contar se conseguir recordar de algo que não pode ser jamais esquecido. Agradeço. Sorrio. E parto com a certeza que o meu orgulho só cresce em conhecer histórias como a de Ary. Autênticas e únicas.
Rapidamente sou interrompida por um cliente. Ary o atende e conversa comigo. Depois surge apenas um conhecido que entra, lê os curiosos pôsteres na parede e vai embora lhe desejando um ótimo dia. Qual será o mistério de tanta sabedoria e simpatia?
Há quem passe por ali toda a semana, para cortar o cabelo, fazer a barba ou apenas para falar um bom dia ou boa tarde. Há quem já passou e não voltou mais. Mas há quem freqüente e quem não troque Ary por barbeiro algum. Já passaram por ali ex-prefeitos, deputados e grandes amigos que já partiram. Ary tem saudade. Lembra que todos os anos de sua vida foram ótimos. Há também quem fale de política, de mulher bonita ou apenas uma conversa sem começo e nem fim. Há quem divida segredos, fale de dor e peça ajuda. Há quem fale de perdas e saudade. Há também quem fale mal de alguém. Ali há lugar para todos os assuntos e para todas as pessoas. Ary trata a todos igualmente, sem nenhuma diferença. Considera-se grande amigo dos clientes; muitos deles convivem com Ary há mais de 50 anos.
Quando você pisa na barbearia a foto que chama a atenção, é Ary, em cima de um elefante, em 1965. Ary tem quase a mesma idade do Clube, fundado em 1927, hoje com 84 anos. Ary se orgulha em falar do time que tanto lhe trouxe histórias e boas lembranças. Desde pequeno morava perto do antigo Estádio de Eucaliptos ou Gigante de Madeira, e comparecia a todos os jogos com os irmãos. Esteve presente em 1962 quando foi inaugurado o Estádio Gilberto Siqueira Lopes, nome em homenagem a um ex-prefeito, advogado e seu amigo pessoal. Ary lembra que a estreia foi com o jogo que o Clube Atlético Linense perdeu de 2 x 4 para o Botafogo Futebol Clube. O "Gilbertão", como ficou conhecido, tem capacidade para 15 mil torcedores e o barbeiro conta nos dedos os jogos que deixou de ir ao Estádio.
Ary fala novamente da história do Elefante da Noroeste. O clube ficou conhecido pelo mascote após se tornar símbolo do time. O título de elefante se deve a uma comparação ingênua do Linense com o animal, que vai devagar, mas sempre chega longe. Em 25 de julho de 1965 após um concurso para eleger os corneteiros do clube (o prêmio seria uma volta no Estádio em cima dos elefantes que o Circo Garcia disponibilizou); Ary, após a votação unânime, venceu com 45 mil votos e ganhou a volta olímpica em um dia de jogo clássico (Linense x Tanabi), e mais 10 mil cruzeiros. Garante que foi a maior falação do ano na época. Ary lembra também de grandes jogos mostrando os pôsteres do time colados nas paredes, como o confronto em 1953, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo. O Clube Atlético Linense venceu a Ferroviária por 3x0, tornando-se Campeão Paulista da A2. O jogo em 1977, em histórica partida, consagrou o time como Campeão Paulista A3, derrotando o Votuporanguense por 1 x 0. Ary não se esquece de falar da vitória do Linense que garantiu a primeira divisão em 2011. Além de ter orgulho do time, Ary tem orgulho de ser Linense, mesmo tendo as origens de Avanhandava.
Fora dali Ary é como qualquer outra pessoa. Não esconde e diz que não é segredo pra ninguém a sua “passadinha” diária no bar. Pára e senta para tomar sua cerveja onde encontra amigos. Em qualquer lugar ele se sente em casa; desde que esteja bem acompanhado. Conta-me que não deixa de trabalhar um dia, exceto aos domingos. Há três anos atrás, Ary ficou 110 dias afastado por um problema na coluna. Doía demais. Estava quase sem andar. Ary achou que não iria agüentar de saudade do trabalho nesse tempo. A operação corrigiu o problema e Ary está melhor do que nunca. De camisa quase sempre branca, óculos e vários cabelos brancos, Ary não pensa em sair dali. Só se o destino o der uma prova sem múltipla escolha. O ponto da barbearia nunca pertenceu a ele. O dono nunca quis vender, mas também nunca deixou de alugar para o barbeiro. Nenhuma proposta conseguiu tira-lo dali. E ele permanece até hoje. Talvez se tivesse mudado de local não teria dado certo a sua profissão e o seu reconhecimento.
Autêntico e paciente, Ary também é aposentado, pois como todo brasileiro precisa ter um salário extra. Pai de duas filhas, Regina e Denise; uma estilista e outra analista contábil, Ary fica feliz por uma filha morar perto. Com isso, ele tem mais tempo para se dedicar a sua única neta. É assim que Ary divide o seu tempo. Alice Oliveira, sua mulher, não tem queixas de Ary. Com 76 anos, garante que ele é um bom marido, bom pai e bom avô. E não esquece de falar o fiel torcedor que é. Mas não fica enciumada por dividir seu tempo com o time e a barbearia. Seu pai sempre foi ferroviário e sua mãe nunca teve queixas pelo tempo ausente. Alice também não tem. É preciso nessa idade saber tirar o máximo de proveito do tempo, diz a Ary. O corpo e a cabeça agradecem a eles.
Ele não me deixa esquecer do Palmeiras. Sempre que podia, comparecia aos jogos do Palmeiras no estado de São Paulo. Considera o goleiro Marcos o seu herói. Muitas conquistas do time se devem ao seu brilhante desenvolvimento e talento. Lembra que a vitória de 1959 foi uma das mais emocionantes já vistas por ele. Mostrando um vinil que tem a narração dessa conquista, Ary lamenta por não estar presente naquele dia.
Divide o seu tempo livre na barbearia lendo jornais, vendo TV, cumprimentando a todos que passam na calçada e lendo romances espíritas. Gosta de ler. De tentar compreender além do que acontece nos seus olhos. Ary é assinante do clube do livro e garante que é apaixonado por esses contos espirituais.
Despeço-me e ele permanece pensativo, tentando lembrar de algum detalhe ou algum pedaço de sua história que não foi contado. Promete me contar se conseguir recordar de algo que não pode ser jamais esquecido. Agradeço. Sorrio. E parto com a certeza que o meu orgulho só cresce em conhecer histórias como a de Ary. Autênticas e únicas.
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