sexta-feira, 7 de abril de 2017

Sem saber ler e nem escrever até os 82 anos, viúva se torna artista plástica de sucesso

Em pouco mais de dois anos, Tetê, como gosta de ser chamada, aprendeu a ler e, com mais de 150 trabalhos produzidos, já realizou exposições em cinco cidades brasileiras, vendendo seus quadros até para o exterior
A história de vida de Therezinha Brandolim de Souza, 84, parece novela de TV. Viúva e mãe de cinco filhos, até os 82 anos de idade, ela não sabia ler e nem escrever. Em pouco mais de dois anos, aprendeu a ler e, sem nenhuma experiência prévia, começou uma promissora carreira nas artes plásticas. Com mais de 150 trabalhos produzidos, Tetê, como gosta de ser chamada, já realizou exposições em cinco cidades brasileiras e vendeu quadros até para o exterior.
Não conseguia aprender a ler e escrever
Neta de imigrantes italianos, Tetê nasceu em Monte Azul Paulista, em São Paulo, e, como milhares de paulistanos no interior do Estado, trabalhou na roça e não teve chances de se alfabetizar. Em 1974, mudou-se para Ribeirão Preto, onde trabalhou como faxineira e dona de casa.
Após a aposentadoria, tentou aprender a ler, mas não teve sucesso. No total, foram dez anos de matrículas, entre 2000 e 2010, nos cursos de EJA (Educação de Jovens e Adultos). Os professores da época diziam que ela tinha algum tipo de bloqueio. “Tinha muita coisa que não tinha nada a ver comigo. Eu simplesmente não conseguia. Tentei muito, mas acabei deixando esse sonho de lado”, desabafou Tetê.
Em 2013, uma de suas filhas, Maria Zulmira, fez contato com a educadora Jany Dilourdes Nascimento, especializada no Método Paulo Freire – método que propõe a identificação das palavras-chave do vocabulário dos alunos, sugerindo situações de vida comuns e significativas para os integrantes da comunidade em que se atua.
Foi com ela que Tetê finalmente conseguiu aprender a ler. E foi também com Jany que ela iniciou um caminho que não esperava seguir: as artes plásticas.
Durante uma das aulas, quando Tetê escrevia mensagens de Páscoa para familiares, Jany levou chita para fazer a decoração dos cartões. As flores recortadas que sobraram se transformaram no primeiro quadro. De lá para cá, Tetê não parou mais. “Comecei brincando e deu certo. Continuo brincando até hoje”, conta a artista.
Do Minhocão a Nova Iorque
Em pouco mais de dois anos de atividade artística, ela já produziu mais de 150 trabalhos tendo a chita como principal matéria-prima, sendo que alguns deles foram vendidos para o exterior. O mais caro custou R$ 1,5 mil. Também já grafitou no Minhocão em São Paulo e sonha em fazer um mural num grande painel, expor em muitos lugares e ir para Nova Iorque.
Questionada, Tetê deixa a modéstia de lado e acredita que outras pessoas podem seguir o exemplo dela na velhice. “Eu acho que sou exemplo sim. Acho muito bom porque, ao invés de olhar para as paredes, eu faço uma coisa. Gostaria de falar para as pessoas se animarem, fazerem qualquer trabalho. Eu acho que Deus deu a vida, então qualquer pessoa viva pode realizar o seu sonho”, enfatizou.

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