quinta-feira, 14 de junho de 2012

Bola para frente


Jogador bom é aquele que faz gol. Goleiro bom é aquele que defende gol. E treinador bom, quem é? O grande mestre que domina todas as regras? O paizão, que trata os jogadores como crianças crescidas, necessitadas de compreensão e apoio? O que sabe revelar novos talentos? O que estuda os adversários? Ou, simplesmente, o vencedor? No momento em que treinador transformou-se em “professor” é evidente a importância deste profissional seja em um grande clube ou em algum time de bairro perto de onde você mora.
E se você imagina que para promover o desenvolvimento pessoal e as habilidades esportivas em jovens que dificilmente teriam uma chance em um grande clube ou academia é necessário fundar uma ONG com dezenas de colaboradores e parceiros, é porque você não conhece Fernando José Teodoro, mais conhecido como Fernandão.
Fernandão é linense, filho de Teresinha de Fátima Teodoro e José Eduardo de Barros Virgilio, e irmão de mais dois homens que nunca se interessaram por qualquer tipo de esporte. Filho de pais separados, Fernando permaneceu dos 11 aos 15 anos na Febem em Lins (Anita Costa), hoje, Fundação CASA, junto aos seus irmãos, após a morte da avó que desestruturaria toda a sua família. 
Com o foco sempre no futebol, aos oito anos, Fernando já era líder do time da rua onde morava. Conta que aprendeu quase tudo o que sabe sobre a bola nos pés, com o professor de Educação Física, Edson, na antiga Febem.
No ano de 1985, Fernandão começou as atividades com os jovens; primeiro dando treino na Rua Rockfeller com o time do Trevinho, depois com o Expressinho da Vila Ribeiro, Estação (NOB), e por fim com o time do Botafogo, onde permaneceu por mais de 10 anos.
Fernandão trabalhou como office-boy, montador de móveis, marceneiro, guarda noturno, e servente de serviços gerais; mas vestiu fielmente apenas uma camisa em toda sua trajetória profissional: a de treinador.
Após muito esforço, em 1998, Fernando participou do 1º Curso de Futebol em Paraguaçu Paulista, o primeiro dos sete que viriam pela frente. No mesmo ano entrou se tornou servidor público e treinador do CSU. Foi também coordenador de Esporte no Projeto Renascer durante seis anos e coordenador do time de base do Linensinho por um ano.
Há um ano é zelador do Ginásio de Esportes João dos Santos Meira e reside no local. Em 1999, Fernandão decidiu que era hora do seu sonho se tornar realidade: sem nenhuma verba política ou patrocínio privado, apenas com algumas doações, Fernandão fundou a Associação Esportiva de Pais de Lins, que atende hoje 88 alunos entre 8 a 16 anos, de segunda, quarta e sexta das 16 às 18 horas.
Sua missão sempre foi fazer o bem e levar alegria por onde passa. A escolinha de futebol ocupa os jovens e crianças carentes, agindo contra a falta de educação e lazer, aproveitando um espaço que já pertence à comunidade.
Sem dúvida, o trabalho social realizado com muito amor e dedicação por Fernandão, colabora na educação das crianças através da prática esportiva, promove a amizade entre os colegas, estimula o bom desempenho escolar e pessoal e descobre novos talentos. “São momentos que eles poderiam estar na rua à toa, mas estão sob cuidados praticando o esporte”, conta o treinador, que, pelo histórico, é um exemplo para os meninos.
O linense pode ser considerado uma lenda viva e referência no futebol para adolescentes em Lins. Por anos dando oportunidade aos jovens, tornou-se um símbolo de raça e dedicação, peça fundamental para se classificar entre as melhores equipes no Campeonato Estadual, 1º lugar no Campeonato da Liga Linense de Futebol Amador em 200 7, e campeão da 5ª Copa de Monte Aprazível – categoria dente de leite em 2012. Participou também do 1º Campeonato Internacional em Guarulhos com mais 140 times. Trouxe para Lins em 1999 a Fase Estadual da Liga Mercosul com a participação de times como Santos, Botafogo e Corinthians.
Fernandão veio de família carente e, hoje, fortalece os sonhos de jovens que conhecem o futebol a partir do projeto.  Tornou-se profissional, disputou torneios estaduais e nacionais, e foi até convidado para treinar grandes times.
Fernandão revela que já treinou mais de 3500 meninos, entre eles craques consagrados como Gum (MAC, Ponte Preta, Oswaldo Cruz e Fluminense) Tiago Umberto (Linensinho, Inter de Porto Alegre), Moreira (Linense, MAC), Xandão (Linense), Toco (Tanabi), Paulo Roberto (Jaboticabal), Edson Alves (Sumaré), Zé Love (ACE Guarulhos, Santos, Genoa (Itália), e confessa que do atual time, três jogadores se tornarão grandes profissionais.
Disputar campeonatos, ver o desenvolvimento e ter condições de inserir os alunos no cenário profissional, com cursos e palestras que realizou e tirá-los de qualquer situação de vulnerabilidade sempre foi o objetivo do treinador. Falta de reconhecimento, preconceito e denúncias para o CREF (Conselho Regional de Educação Física), foram alguns dos episódios tristes em sua vida. Mas, bola para frente!
Apesar de o destino ter sido muito generoso com Fernandão, ele nos conta que ainda possui vários sonhos que ainda não foram realizados: um rancho para descansar, um carro para se locomover e o reconhecimento profissional para a sua felicidade ser completa.
Se falarmos em Fernando José Teodoro, talvez, nem todos saibam exatamente de quem se trata. Porém, se fizermos referência ao trabalho realizado, a maioria dos atletas que conviveu com ele sabe da importância dele para o esporte em Lins.
No final da entrevista, Fernandão nos conta que apesar de todas as dificuldades, ao longo dos seus 43 anos de idade, espera encerrar a sua carreira nas quatro linhas só quando o cara lá de cima decidir.
“Só tenho que agradecer o apoio da Secretaria de Esportes (Semclatur), a confiança dos pais e a ajuda que recebo de amigos e colaboradores”, completa Fernandão.
Para quem deseja ajudar o projeto, o Ginásio João Santos Meira fica na Rua Oswaldo de Menezes, sem número.  Materiais esportivos para realizar as atividades em horário de aula como camisetas, calções, chuteiras, coletes, bolas e apito; são sempre bem-vindos.

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