terça-feira, 18 de outubro de 2011

SADAMI NISHIMOTO

Conhecida por ser proprietária da padaria “Santa Margarida” há mais de 50 anos, Sadami nos recebeu em sua casa, e contou um pouco sobre a sua trajetória na cidade que lhe acolheu com os braços abertos. Confira:
Dizem que a primeira impressão é a que fica. A minha ao conhecer a querida Bassan, como é conhecida, não poderia ter sido melhor. Com a sabedoria e a calma de uma verdadeira oriental, Sadami abriu as portas da sua casa, na manhã do dia 3 de setembro e nos revelou segredos de uma vida tranquila e feliz, após anos de trabalho.
Não há quem não a conheça. Sadami é um ícone linense, cheia de história e saudade para relembrar. Sua vida pode ser resumida apenas em algumas palavras: vontade de viver! Quando nos deparamos com pessoas assim, dá vontade de perguntar: de onde vem tanta energia? Com disposição de dar inveja, ela conseguiu ir além das barreiras que a vida lhe reservou, conquistando aos poucos tudo o que sonhava.
Sadami nasceu próximo a Guaiçara, no dia 19 de agosto de 1925. Filha de imigrantes vindos de Kumamoto (uma província do Japão localizada na ilha de Kyushu) para trabalhar na lavoura de café e na agricultura, seu pai; Nobue, e sua mãe; Yoshitaro, chegaram ao Brasil e se mudaram para um sítio perto dali. Como todo imigrante, a vida da família não era nada fácil e o que não faltava eram dificuldades. Sadami é primogênita dos seis filhos; perdeu os pais muito cedo. Todos ficaram aos cuidados da avó. Após algum tempo vieram para um sítio em Lins e por lá residiram até se casarem. Poucos estudaram; todos precisavam trabalhar e ajudar nas despesas da casa. Em 1950, Sadami casou-se com Kami e tiveram quatro filhos: Akico, Yaeko, Luis Toshio e Hatsue. Depois do casamento, eles decidiram mudar para o bairro do Ribeiro, onde parte da família vive até hoje. Em 1953, o casal comprou a padaria Santa Margarida; já havia o ponto, mas o antigo proprietário não obteve sucesso no ramo. Porém, com a família de Kami a história não se repetiria.
O casal vivia para o trabalho, e ela admite que ficar o dia todo na padaria era o seu maior prazer. Sadami aprendeu a fazer sozinha, bolos, pães e doces em geral. Diariamente eram feitos mais de 1500 pães, além dos confeitos. Trabalhavam quase 24 horas por dia, sem descanso ou férias. A padaria abria às 5 da manhã e fechava no final da tarde, mas Sadami continuava trabalhando nos fundos, e atendendo a todos que ali passavam. O respeito dos clientes com a família era tão grande, que os mesmos pegavam os pães e depositavam o dinheiro em uma caixinha, sem ninguém conferir a quantidade e os valores.
Com muita simplicidade e humildade a família conquistou tudo o que possui. Também foram proprietários das padarias Cristal e Brasil, deixando aos cuidados de parentes. Depois de algum tempo foram vendidas para os atuais donos, ficando apenas com a Santa Margarida, que hoje conta com treze funcionários; cinco padeiros e oito balconistas.
Viúva, Sadami mora perto da família e ao lado do atual prédio inaugurado há cerca de cinco anos. Ela relembra dos presentes que ganhou ao longo da vida; seus filhos (alguns moram longe), doze netos e três bisnetos.
Além de se dedicar longos anos da sua vida à padaria, Sadami foi voluntária no Templo Honpa Hongwanji, colaborando nos dias que havia festas, encontros e confraternizações.
Curiosamente descubro que apesar de ter descendências orientais, Sadami nunca esteve no Japão; admite que o medo de avião a impeça de viajar e conhecer os familiares que ficaram na terra do Sol Nascente. Os filhos, e o marido Kami também nunca foram.
Nossa Persona acorda todos os dias às 5 da manhã para preparar o café da família, e no final de quase todas as tardes passa pela padaria para matar a saudade. Sadami e sua família são exemplos de que a vida não pode parar. E não pára. Ela continua para que no fim tudo dê certo. Com disciplina e paciência, ela descobriu como viver pode ser espetacular e surpreendente a cada momento.

Uma curiosidade: Quando a padaria localizava-se na Rua Rui Barbosa havia uma farmácia ao lado, e o farmacêutico Aguinaldo, que era amigo da família, não conseguia decorar o nome de todos e tão pouco pronunciá-los. Com criatividade, ele inventou outros nomes, apelidando Sadami como “dona Vilma” e o seu marido, como “Kamilo”. Os filhos passaram a se chamar “Terezinha”, “Salete”, “Luiz” e “Doralice”. Dados há mais de 50 anos, esses apelidos permanecem até hoje entre os amigos.
Comida preferida: Todo o tipo de comida japonesa, principalmente sashimi.
Bebida: Suco.
Música: Japonesa.
Um defeito: Teimosia.
Uma qualidade: Trabalhadora.
Um orgulho: O seu maior orgulho foi quando percebeu que as filhas estavam aos poucos assumindo os negócios da família. Não ver a padaria ser vendida ou esquecida, sem dúvida a deixou emocionada.
Um momento marcante: Vários momentos marcaram sua vida, mas ela não esquece a boa convivência que tinha com os seus funcionários e a ajuda que deu a eles, como uma verdadeira mãe. Sadami ajudava a todos como podia; dava abrigo, muitas vezes oferecia trabalho, roupas e refeições para quem a procurasse na padaria.

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