Reconhecido pelo seu excelente trabalho, o garçom mais famoso de Lins nos contou um pouco sobre a arte de servir bem, em um bate-papo descontraído...
[Matéria publicada na revista Mais!]
Para você, como deve ser o garçom? Ágil? Atencioso? Discreto? Todas essas qualidades são valorizadas, mas certamente nos melhores bares ou restaurante em que você já esteve, havia um garçom bacana.
Com bom humor e simpatia, José Greco ou simplesmente Greco fez história com o seu ofício em Lins. Há 52 anos ele domina essa arte como poucos; abraçou com carinho a tarefa de trabalhar durante a diversão dos outros. Com 66 anos e muita dedicação, Greco se tornou o garçom mais conhecido e “cobiçado” da cidade.
Nascido em 1944, na cidade de Pirajuí e casado com Ana Neri há 32 anos, ele relembra que o início na profissão foi determinado pela necessidade. Greco saiu de casa muito cedo, sem destino. Arrumou trabalho e moradia no Pirajuí Hotel, e começou a ajudar no restaurante dando uma força no atendimento. Se foi parar na profissão sem querer, hoje, não se imagina fazendo outra coisa.
Em 1967, Greco veio para Lins com o mesmo modo de vida: de hotel em hotel. O fato de ser um bom observador fez com que ele aprendesse tudo na prática. Sem nenhum curso de aprimoramento, Greco trabalhou em hotéis e restaurante como: Rhodes, Veronezzi, Campus, Lins Palace Hotel, Onze Onze, Bola 7, Postinho de Guaiçara, Boliche, Cacique, Clube Linense, e foi proprietário por quase dois anos do restaurante Casarão.
Inventor dos pratos “Costa Azul” e “Gour dounbleu” na década de 70, o garçom encerrou o seu negócio e partiu para o comércio. Trabalhou 35 anos em várias lojas, alguns anos no Banco União Comercial e conciliava os eventos somente aos finais de semana. Nunca mais trabalhou como funcionário; Greco passou a fazer a sua agenda e os seus horários. Hoje, são 12 festas por mês, mas chegou a fazer mais de 25. Foi chamado para eventos nas cidades de Maringá, São José do Rio Preto, Bauru e Prudente. Atendeu celebridades como Jânio Quadros e Delfim Netto na época do Casarão.
Greco revelou que já trabalhou em despedida de solteiras e chás de bebê. “É preciso aceitar todo o tipo de oferta quando se precisa trabalhar”. Com o tempo passou a ser mais seletivo e menos disponível. A cidade possui por volta de 80 garçons no mais diferentes estabelecimentos. Greco acredita que 20 ou menos, se comportem como um verdadeiro profissional.
Sua paixão pelo trabalho é admirada por todos. Greco nunca quis ser metre ou apenas o proprietário. Para ele, o importante era estar ali, atendendo a todos sempre muito bem. Já “criou” mais de 50 profissionais, que hoje exercem brilhantemente a profissão.
Seus filhos Cléber e José Roberto não seguiram o seu exemplo. Ele confessa que no início do casamento, sua esposa não aprovava a profissão, pois ele quase não ficava em casa. Com o tempo, aceitou e o apoia em tudo.
Percebemos que os proprietários, ora os consideram parceiros, ora inimigos, mas o fato é que, sem uma boa equipe de garçons, nenhuma empresa conquista o sucesso.
Atualmente, não é fácil encontrar garçons experientes. Essa é uma das poucas profissões em que se avalia o profissional ao contrário. Ou seja, quanto menos ele for notado, melhor estará fazendo seu serviço. Não chamar atenção, nesse caso, não é desmerecimento, é competência. Ter técnica é importante, mas o que vale mesmo é o bom atendimento. Para muitos, o garçom cativante é o melhor, porém a simpatia tem de ter limite. O garçom precisa ter sensibilidade e perceber quando e como se aproximar, ser atencioso sem ser chato, enfim, tem que ser "legal", sem ser inconveniente. Sem contar que, nessa profissão, o bom humor é fundamental. O bom garçom é aquele cuja existência não se percebe até que se precise dele.
Como diz o escritor Xico Sá: “Garçom é como filho, por mais que a gente diga que gosta igualmente de todos, sempre tem um da nossa secreta preferência”.
Para Greco, ser garçom não é brincadeira. Segundo ele, um bom profissional deve ter uma boa apresentação, higiene pessoal, simpatia, educação, disposição, preparo físico, habilidade mental, estar sempre uniformizado, entre outros. “Só quem já trabalha há muito tempo pode dizer quais as qualidades que um bom profissional precisa ter”, disse Greco.
O que é mais divertido na profissão de garçom?
É o contato com as pessoas. Qualquer um pode atender um pedido e servir uma bandeja, mas ser garçom é mais do que isso. É preciso entender o cliente.
Você já trabalhou em vários lugares com um grande número de pessoas. Isso exige conhecimento?
Sim, com certeza. Já estive em uma festa com duas mil pessoas. Temos que aprender não só sobre bebidas e pratos, mas diversas coisas ao longo da profissão.
Existe algum inconveniente em trabalhar na área?
O atendimento tem que ser o mesmo para todos independente da classe social. Mas alguns clientes, às vezes exageram na bebida ou se comportam de maneira inadequada. Só o tempo ensina a gente a lidar com isso.
Qual é o segredo do bom atendimento?
Cordialidade e discrição. Para ser um bom garçom é preciso esquecer os problemas pessoais e se concentrar apenas no atendimento. Cada restaurante ou buffet tem as suas próprias regras e a sua forma de trabalho. É muito bom ganhar a confiança das pessoas e ser reconhecido pelo o que você faz.
Qual a maior desafio que o senhor encontrou na profissão?
Aprender a servir à francesa foi muito complicado. Hoje, faço isso sem dificuldades, além de ter ensinado muitos garçons a cumprirem essa tarefa.
Defina o bom profissional em apenas uma palavra.
Educação.