O “novo idoso”, como os especialistas chamam quem pertence a
essa geração, quer conversar com alguém capaz de entender o significado do
envelhecimento: o terapeuta
O “novo idoso”, como os especialistas chamam quem pertence a
essa geração, quer conversar com alguém capaz de entender o significado do
envelhecimento: o terapeuta. O movimento inédito revela uma geração que busca
mudar sua vida na terceira idade.
“O novo idoso chega aos 60 com expectativa de viver por pelo
menos mais um terço da vida – e deseja fazê-lo de forma alegre, com autonomia e
protagonismo1. Eles têm urgência de reinventar sua própria história”, afirma a
psicóloga Ruth Gelehrter, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
“Aos 30 anos, não era a mulher forte que sou hoje”
Com ajuda financeira dos filhos, Maria Teresa Savi (foto),
60, procurou um terapeuta “para descobrir quem era”. Como muitas mulheres de
sua geração, cresceu em família rígida, ouvindo que a trajetória de uma mulher
inclui somente dois momentos importantes: casamento e maternidade. A história
de Maria Teresa teve um casamento e três filhos, mas não o final feliz que ela
sonhara.
O divórcio, aos 50 anos, tampouco trouxe as respostas que
esperara. Experimentou pela primeira vez a liberdade de fazer as próprias
escolhas, mas não sabia como aproveitá-la – afinal, crescera obedecendo à
vontade do outro. Em um ano no consultório, conquistou algo que não esperava
mais da vida: confiança. “Aos 30, não era a mulher forte que sou hoje. Aprendi
a dar valor ao que faço”, afirma.
“Essa geração tem mais informação e chega à terceira idade
em excelentes condições de saúde. Por isso, faz sentido buscar um novo sentido
para a vida, como fez Maria Teresa e como fazem quatro em cada dez pacientes da
terapia”, diz Maria Cecília Minayo, socióloga da Fiocruz.
Para melhor desfrutar esse momento, outras questões são
tratadas pelos “novos idosos” no divã: como lidar com a aposentadoria, as
limitações que o avanço da idade impõe – e a possibilidade de ter que depender
de alguém –, as mudanças na aparência, o convívio familiar e a vida sexual. Os
pacientes têm dúvidas a que nem a família nem os amigos podem responder. “O
idoso é amado e respeitado, mas não é ouvido”, diz o psicólogo Fernando Genaro,
pioneiro de um serviço público de atendimento psicológico ao idoso num centro
de saúde na Zona Norte de São Paulo.
“Encarar o novo ou confrontar o passado significa assumir
para si mesmo que é preciso mudar. Isso nunca foi fácil em idade nenhuma.
Começar aos 60 anos, segundo os terapeutas, tem uma vantagem fundamental: quem
entra num consultório nessa idade não tem mais tempo a perder”, enfatiza Walcyr
Carrasco, escritor, dramaturgo e autor de telenovelas brasileiro.
Foto/ilustração: Rogério Cassimiro/ÉPOCA / Portal Terceira
Idade
Fonte: Revista Época
1Protagonismo: (do Dicionário Aulete) Qualidade de quem
exerce papel de destaque em qualquer acontecimento.