Rosilene Costa, 63, afirma não ter medo de morar no seu abrigo, que tem
até rede e uma coleção de livros, construído com pedaços de madeira amarrados
uns aos outros e coberto com uma lona
Moradia sempre foi um dos
principais problemas do País. Enquanto condomínios de luxo são erguidos
diariamente nas grandes capitais, 47,5% da população brasileira, segundos dados
do IBGE, “dão um jeitinho”, construindo residências humildes, muitas vezes
feitas de maneira rudimentar e com pouca – ou quase nenhuma – condição de
habitabilidade.
Rosilene Moraes Costa, 63 anos,
“deu seu jeitinho” de uma maneira inusitada. Há dez anos, ela mora numa ‘casa’
construída no alto de uma árvore.
A decisão de viver
em Boa Vista surgiu da vontade de estudar. “Aqui consegui terminar o ensino
médio. Não sou analfabeta”, ressaltou, orgulhosa ao demonstrar que a escolha de
morar na árvore não está relacionada à falta de conhecimento.
Ela disse que conhece os direitos
que tem como idosa, incluindo ter uma moradia e condições básicas de saúde. No
entanto, nos dez anos em que vive na árvore nunca teve acesso a eles.
“Já fui atrás, não adianta. O
estatuto diz que o estado deve proteger os idosos. Mas, até agora, não tive
nenhuma proteção. Nem aposentada sou. Me acomodei com essa situação. Mas, morar
aqui não significa que não tenho nada. Tenho uma vida”, confessou.
Para se alimentar, ela diz que
recebe ajuda dos moradores do bairro. Algumas vezes, pede ajuda na rua.
Rosilene faz a higiene pessoal em um banheiro de uma loja que fica no centro
comercial de Boa Vista.
Ela diz que não tem medo de morar
sozinha e que não sente falta de serviços como água encanada ou energia
elétrica. “A dignidade é algo que não nos compram. Não tenho condições de pagar
um lugar para morar e também não vou sair por aí ‘sujando’ meu nome, devendo às
pessoas. Tenho respeito”, desaba Rosilene.
Fotos: Valéria
Oliveira e Natacha Portal / G1 / divulgação